post-blog-comsurf-asturias-guaruja

A vida é mesmo bacana para os iniciantes. 

Decido ir pegar onda de tarde (como fiz nos últimos 2 dias de mini-férias). A esposa incrédula me pergunta como posso pensar em fazer isso com o frio que estava (uns 15 graus). Não sei muito bem, mas graças a um amigo que emprestou um wetsuit (que deveria se chamar warmsuit), é moleza.

Só os pés sofrem com a água gelada em um intervalo mais longo entre uma série e outra de ondas. 

Temos mar de 1 metro. Água mais gelada entre os 3 dias que estive por lá. Chego no outside e encontro mais uns 4 "loucos". Um sexto chega um pouco depois. No horizonte dava para ver mais uma meia dúzia lá nas Pitangueiras.

Cumprimento as pessoas e entre eles um moleque de 11 anos (pegando mais ondas que os outros barbudos) e seu professor (algo que fiquei sabendo mais tarde). Pergunto para o professor a idade do menino. Ele me responde que tinha 11 anos, idade boa que aprende rápido. O garoto estava surfando há quase 3 meses. 

Uma onda vem e consigo pegá-la. A primeira da tarde. 

Remando na volta, vem uma das respostas que deveria ter dado para a patroa. Quando a Bella tiver a mesma idade já estaremos juntos surfando. Preciso ficar bom (ou pelo menos razoável) antes disso para preservar o coração materno. 

Mais uma onda surge, mais uma ida até a areia.

O professor me parabeniza pelas ondas e pela prancha (um longboard). Digo que era a minha primeira, que tinha mandado fazer e tinha aprendido a surfar nas férias de início de ano. 

Vem mais uma onda, mas, essa eu perco. A prancha tinha embicado. 

Volto para o outside e o professor me pergunta se podia dar uma dica sobre remada. Boa dica. Levo umas 5 tentativas entre parar de pensar no que ele havia me dito e fazer aquilo mais naturalmente. A boa dica vira uma baita dica. Já tinha valido a tarde. Não precisava mais pegar nenhuma (ainda bem que isso não aconteceu).

A tarde segue entre tentativas, erros e acertos. O professor continua me falando mais coisas. Remar mais para o fundo em algumas situações, o tempo de algumas ondas. Em 2 horas no mar, talvez, tenha sido uns dos dias que mais peguei ondas na minha curta vida de surfista.

Pergunto onde ele costumava dar aulas, pegar ondas e etc. Ele me conta que dava aulas de town-in na Enseada. Uma luz acende. E que costumava pegar ondas em Nazaré. A segunda luz acende. Eu pergunto qual a maior onda que ele já tinha pego. Ele responde, uns 70 e poucos pés, mais ou menos uns 30 metros. O farol inteiro acende. O cara era um big rider. Olho para a prancha dele e noto que é mesmo um pouco diferente do padrão que costumo ver naquela praia. Notei que tinha um adesivo com o nome dele. Acho que uns de patrocínios também.

Pergunto se tem facebook (mais tarde entro na página, vejo as ondas monstruosas que ele pega e que tem uns 19 mil seguidores e entre seus seguidores um amigo surfista). O cara sem eu pagar estava lá me dando várias dicas. Coisa diferente da vida na terra. Digo que vou mandar uma mensagem depois para ver se ele pode me dar aulas para mudar para uma prancha menor. “É só mandar." - ele responde.

O resto da tarde segue. O espaço entre os grupos de surfistas vai ficando maior. O professor e o moleque vão mais para a esquerda. Eu fico mais no centro mesmo.

Já estava escurecendo e decido sair. Mesmo sem uma saidera. Já tinha ganhado tantas ondas na tarde, não precisava ser ganancioso. Começa o ritual. Lava prancha. Seca prancha. Guarda prancha. Tira wetsuit. Lava wetsuit. Seca wetsuit. Banho.

Mais tarde, no whatsapp com um amigo que tem me ajudado bastante a aprender a surfar, conto como tinham sido as condições do surfe da tarde (aliás, toda vez que saio mando uma mensagem. Já deve estar cheio disso) e pergunto, sem contar a parte das dicas, se conhecia aquele cara, o professor. Ele responde que sim e era bem famoso entre os big riders. Eu solto um "garai!" e conto como o cara tinha sido gente boa. 

Conto para a esposa e para a sogra. Feliz da vida. E, pensando que, ainda que as dicas tenham sido de fato excelentes (e espero que consiga aplicá-las amanhã de manhã também), pra mim ficou mesmo na mente que, por mais que exista uma diferença de umas 30 vezes entre as ondas que eu pego e as que ele pega, falando de uma referência no esporte, exista espaço para esse cara/surfista/professor ser gentil e disponível para ajudar, numa tarde qualquer, um iniciante qualquer. Valeu, Rodrigo Koxa! A vida é bacana mesmo. 

Aloha

Fabrício Nicoletti (Fabra)

IMG-20160801-WA0025

Bio do autor: Fabra começou a pegar onda aos 34 anos de longboard. É empreendedor na área de recursos humanos e pensa que o surfe consegue traduzir quase tudo que encontra de desafios na vida. É pai da Bella, marido da Lú e tem o Thor para agitar um pouco mais o ambiente.

Perfil do Facebook: https://www.facebook.com/fabranicoletti