Surf nas olimpíadas

É oficial! O Surf virou esporte olímpico! E agora?

O comitê Olimpico Internacional acabou de anunciar que o Surf vai ser incluído como esporte olímpico nos Jogos de Tóquio em 2020.

Esse tema vem gerando debates homéricos nos últimos anos com defensores ferrenhos do “a favor” e outros do “sou contra”.

Entre os atletas profissionais a maioria sempre se mostrou a favor da novidade, como Gabriel Medina que já declarou antes do anúncio ocorrer: "seria alucinante ter um time de brasileiros competindo contra outros países. É claro que venceríamos (risos)! Espero que aconteça”. Taylor Knox também já declarou seu apoio e simpatia pela ideia há anos atrás: “Nós surfamos contra os melhores surfistas de países de todo o mundo na ASP. Seria surreal competir com o Kelly Slater pelos EUA contra o Mick Fanning e outros (...)”.

Entidades do Surf como ISA (International Surfing Association) e WSL (World Surfing League) defendem e incentivaram a inclusão do Surf como esporte olímpico visando uma maior audiência. O mesmo sempre ocorreu com as grandes empresas do segmento que visam uma expansão do seu público alvo e consequentemente nas vendas de seus produtos para novos surfistas.

Com a invenção da piscina de ondas Wavegarden há alguns anos, e recentemente com o lançamento da Kelly Slater Wave co que produzem artificialmente ondas perfeitas, um dos principais argumentos contrários, o de que muitas cidades olímpicas não são a beira mar, foi por água abaixo. A alegação de que mesmo as que possuem mar podem não oferecer boas condições para o Surf e que isso seria negativo para o esporte, também parece não fazer mais sentido com essas piscinas de ondas perfeitas.

Os argumentos dos que são contra a inclusão do Surf nas Olimpíadas ficaram mais na esfera emocional e romântica do esporte, como a questão do Surf ser um esporte único e especial, ou a imprevisibilidade do oceano e escolha de ondas ser um fator importante para o esporte e que a competição em ondas artificiais eliminaria esse fator. Outros alegam que com a exposição do Surf como esporte olímpico deixaria as praias com um crowd ainda maior.

A minha opinião é que esse anuncio apenas culmina um processo relativamente longo que o Surf tem enfrentado nos últimos anos, o da profissionalização e massificação do esporte. O Surf até a década de 70 era visto mais como estilo de vida rebelde e alternativo, passou por um início de profissionalização e caiu nas graças de um público maior nos anos 80.

 Na década de 90 e 2000 com Slater na área, a evolução em termos de manobras, performances, treinamentos e equipamentos foi gritante. Isso tudo possibilitou que nessa década fosse possível realizar o chamado “Dream Tour” com as etapas do WCT ocorrendo nos melhores picos do mundo e com transmissão via Internet para milhares de pessoas no mundo inteiro.

Independente do lado que vocês esteja, a inclusão do Surf nos jogos olímpicos de Tóquio, juntamente com as novas piscinas de onda, vai mudar para sempre a cara do esporte que tanto amamos. O público que acompanha o esporte vai se expandir para muito além do litoral dos EUA, Brasil, Austrália e Europa. O Surf vai se tornar Global de verdade e os ídolos do esporte não mais passarão despercebidos em locais públicos.

Esse processo já começou a ocorrer no Brasil com Medina e Mineiro virando heróis nacionais e provavelmente será amplificado e espalhado para outros países nos próximos anos. Esse é o caminho que o Surf tomou e é irreversível. Com certeza vai trazer muitas coisas boas para o Surf e algumas não tão boas.

Espero, e acredito que nós surfistas mais “antigos”, podemos defender e lutar para que o estilo de vida e a cultura Surf de alma jovem e descontraída, o respeito pelo mar e meio ambiente que sempre defendemos, o espírito Aloha e camaradagem que fazem parte da essência do Surf possa se perpetuar como parte integrante do esporte, independentemente do nível de profissionalismo que ele alcance.

Duke Kahanamoku, o pai do Surf moderno, sonhava em ver o Surf como parte dos jogos olímpicos em 1920. Incrível pensar que exatos 100 anos depois, em Tóquio isso vai ocorrer. Esteja onde ele estiver, deve estar “stoked” (amarradão, é a tradução mais usada para esse termo que traduz o estado de êxtase tão vivenciado e falado pelos surfistas), com essa notícia.

Acho que é com esse espírito que todos nós devemos encarar a nova realidade do nosso esporte, com muito Aloha e medalhas de ouro para o Brasil!

Abraço,

Caio Gold Siqueira